segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Frases



B. F. SKINNER


"Education is what survives when what has been learned has been forgotten".
"Educação é aquilo que resta quando o que foi aprendido é esquecido".

"Society attacks early, when the individual is helpless".
"A sociedade tende a atacar, quando o indivíduo esta vulnerável".

"A failure is not always a mistake, it may simply be the best one can do under the circumstances. The real mistake is to stop traying".
"Uma falha não é sempre um erro, pode ser simplesmente o melhor que alguém pode fazer sob as circunstâncias em que se encontra. O real erro é parar de tantar".

"The real problem is not whether machines think but whether men do".
"O verdadeiro problema não é se as máquinas pensam, mas se os homens também o fazem".

"We shouldn't teach great books; we should teach a love of reading".
"Não deveriamos ensinar grande livros; deveriamos ensinar o amar pela leitura".

"I did not direct my life. I didn't design it. I never made decisions. Things always came up and made them for me. That's what life is".
"Eu não dirigi minha vida. Eu não fiz projetos. Eu nunca tomei decisões. Coisas sempre vem a mim e acontecem pra mim. Isso é a vida".

"If you're old, don't try to change yourself, change your environment".
"Se você é velho, não tente mudar a si próprio, mude seu ambiente".
LINUS PAULING

"A melhor maneira de ter uma boa ideia é tendo muitas ideias".

Comportamento Social no Behaviorismo Radical


O presente post trata de um resumo do Capítulo XIX (Comportamento social) do Livro Ciência e Comportamento Humano de B. F. Skinner.

Comportamento social

De acordo com B. F. Skinner o comportamento social constitui-se do comportamento de duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em relação ao ambiente comum. Os métodos das ciências naturais seriam capazes de explicar o comportamento social do indivíduo, uma vez que o comportamento por si só é sempre de um único organismo e ocorre por meio dos mesmos processos utilizados em uma situação não-social. Sendo assim, explicar o comportamento de pessoas em grupos não requer novas terminologias ou a pressuposição de novos processos ou princípios. Buscar uma teoria simples e objetiva é o caminho mais adequado no desenvolvimento científico e no caso da teoria comportamental, é possível, com poucos pressupostos, explicar a vasta gama de comportamentos humanos.

O ambiente social

Um organismo é relevante para outro, fazendo parte de seu ambiente. O comportamento social é mais extenso e flexível do que o comportamento individual reforçado por outros estímulos ambientais, pois o reforço social costuma abranger inúmeras variáveis, dependendo também da condição do agente reforçador. Um ser humano reforça outro de sua espécie, entretanto, os reforçadores que o sujeito A pode aplicar em uma dada ocasião em um sujeito B para fortalecer uma determinada resposta, podem variar em outra situação, na medida que o organismo que reforça também muda seu repertório comportamental de acordo com o estado de seu próprio organismo (o mundo sob a pele) e por estímulos punitivos e reforçadores que tenha recebido em suas outras interações sociais e com o ambiente em geral. Isso torna o repertório comportamental muito abrangente e extremamente passível de mudanças.
Pode-se dizer que os esquemas de reforço são particularmente relevantes no processo de interação social, pois a maioria dos comportamentos é estabelecido por reforços intermitentes. No comportamento de “chateação”, por exemplo, a pessoa é reforçada algumas vezes e não é punida por seu comportamento, até que ele se estabeleça de maneira variável. Quando esse comportamento ocorre em dada situação e não recebe mais o reforço apropriado, o que se pode observar é a emissão continua da resposta. Portanto, duas solicitações de respostas podem se transformar em seis ou mais, de maneira insistente. Diante da obtenção de sucesso em obter o reforço, o sujeito reforçado alcança um número cada vez maior de tentativas para obter o reforçador na medida que este funcionou anteriormente.
Quando um sujeito reforçador se torna difícil de contentar, o reforço fica contingente a um comportamento mais amplo ou altamente diferenciado. Um exemplo seria o do gerente de uma fábrica de peças automotivas que reforça o funcionário com um leve aumento de salário quando este aumenta a produção. O gerente é também reforçado pelo aumento na produção, exigindo assim, uma maior produtividade do funcionário que, consequentemente será levemente reforçado por bonificação, e assim sucessivamente. Este processo de reforço mútuo ocorre na maior parte das interações sociais.

O estímulo social

As outras pessoas fazem parte de um ambiente material constituindo-se do mesmo modo em estímulos. Na medida em que algumas propriedades desses estímulos são difíceis de serem descritos em termos físicos, é fácil supor que sejam um processo de intuição.
O sorriso, por exemplo, ultrapassa a capacidade de investigação do cientista, uma vez que há diversas formas de sorriso que ocorrem em diferentes situações. O sorriso, portanto, não é como uma forma geométrica, a qual pode-se estabelecer um critério preciso de descrição e avaliação. Essa forma de expressão facial pode ser, tanto “amigável” como “agressiva”, determinado pela cultura e história particular do indivíduo, e por suas consequências sociais.

O episódio social

Dois indivíduos em uma dada sociedade podem servir de estímulo um ao outro. O mesmo também ocorre com outros organismos. No comportamento de caça de um predador e de fuga de uma presa, uma redução na distância entre o predador e a presa é positivamente reforçadora para o predador e negativamente reforçadora para a presa; já um aumento na distância é negativamente reforçador para o predador e positivamente reforçador para a presa. O mesmo ocorre com os reforçadores verbais entre dois sujeitos que conversam, como quando um indivíduo se aproxima de um tópico delicado para o outro sujeito da conversa. Os estímulos verbais podem ter propriedades reforçadoras ou aversivas.
Dois indivíduos podem regular seu comportamento, um em relação ao outro na medida em que um estabelece seu papel como líder. Um exemplo seria na brincadeira do cabo de guerra, no qual um indivíduo estabelece um padrão rítmico para puxar a corda e o segundo regula seu comportamento com base no comportamento do primeiro. O primeiro consequentemente responderá apropriadamente a ação do segundo e assim sucessivamente, gerando-se assim uma ação conjunta. O mesmo tipo de interação pode ser observada em diversos comportamentos, como em uma dança. Uma vez que o líder também depende dos liderados, pode-se dizer que o líder também é controlado por eles.

Episódios verbais
Diz-se frequentemente que uma pessoa tem um efeito sobre outra além do limite das ciências físicas. Muitos desses exemplos são abrangidos pelo comportamento verbal. Uma análise mais aprofundada, no entanto, demonstra que esse efeito é passível de análise dos métodos científicos. Os sons representam vibrações de intensidade variada no ar e as estruturas vocais responsáveis por sua emissão fazem parte de uma esturura biológica do próprio organismo. Com as estruturas auditivas responsáveis pelo processo inicial de recepção dos sons ocorre o mesmo, sendo estes traduzidos em uma linguagem (informação) assimilada pelo sistema nervoso central. Para todos os efeitos esses eventos físico-químicos fazem parte do organismo e não constituem fenômenos ditos “mentais” no sentido de serem eventos imateriais e incapazes de serem compreendidos.
As palavras supostamente expressam ideias ou significados, porém é possível realizar uma análise típica das ciências naturais. O comportamento verbal que um indivíduo executa em relação a outro, como o pedir um cigarro ou pedir um copo d'água, não surte efeito em um ambiente puramente mecânico, mas foi condicionado por uma comunidade verbal, ainda que intermitentemente. O sujeito em algum ponto de sua história gerou uma discriminiação, de modo que a resposta não é emitida na ausência de um membro da comunidade. Discriminações mais sutis que tenham se constituído aumentam a probabilidade de responder na presença de determinadas pessoas.
Pode ocorrer que um sujeito B reforce a resposta no sujeito A ou assemelhe-se a alguém que o fez. Um exemplo, seria a criança que esta jogando futebol com os amigos e, com sede, decide bater na casa de uma mulher idosa pedindo um copo dágua. Nesse caso, o comportamento pode ocorrer devido ao sucesso na aquisição do copo d'água com outros mulheres idosas. Do mesmo modo, uma condição de privação, aumenta a probabilidade de emissão de um dado comportamento, tal como no exemplo supracitado (sede ou privação de água).
Pode-se também parear um estímulo aversivo a um determinado evento ou sequência de eventos. Por exemplo, o caso de um sujeito (A) que sempre caminha por um bairro perigoso e é frequentemente abordado por um sujeito (B) que lhe pede um cigarro. Suponha-se que, o sujeito B lhe peça um cigarro e o sujeito A não o dê. Seguido a isso, o sujeito B torna-se agressivo. Nesse caso um estímulo aversivo condicionado, fará com que o sujeito A só possa escapar concordando em um pedido futuro de cigarros por parte do sujeito B. Nessa situação hipotética, um “obrigado” do sujeito B após a obtenção do cigarro e seu respectivo afastamento sem apresentar qualquer estímulo aversivo em relação ao sujeito A, indicará uma redução na ameaça.

Interação instável

Diversos sistema sociais mostram uma mudança progressiva. Estímulos verbais, por exemplo, só costumam ser eficientes quando combinados com o comportamento de outros membros do grupo. Isso é comum em avisos de “Silêncio” ao entrar em uma biblioteca, se diversos sujeitos que já estão lá estiverem falando normalmente, o aviso teria pouco efeito. Se os indivíduos estivessem falando em voz baixa, a probabilidade daqueles que recém entraram de falar em voz baixa seria maior. Entretanto, bastaria alguns poucos indivíduos que estão sob menor grau de controle do aviso começarem a falar normalmente e a probabilidade de que o mesmo ocorra com os outros membros do grupo se elevará.
A interações mudam de momento a momento, na medida que uma resposta altera levemente a outra. Tal instabilidade pode ser percebida quando dois indivíduos se empenham em uma conversa casual que culmina em uma discussão repleta de insultos, podendo chegar ao nível da violência física.

Variáveis de suporte no episódio social

Geralmente as pessoas sempre tem algo a oferecer umas as outras, reforçando-se mutuamente. É assim que as relações se mantém.
É possível que o grupo realize a manipulação de variáveis específicas a fim de gerar tendências de comportamento que resultem no reforço de outros. O grupo pode reforçar um indivíduo por ajudar aos demais, por ser sincero e por retribuir favores; em determinadas situações e contextos, porém, ele pode reforçar comportamentos criminosos e egoístas.
Pode-se exemplificar a competição entre dois amigos. Quando o comportamento de um pode ser reforçado apenas à custa do comportamento do outro. Um comportamento de cooperação, no qual o reforço de um ou mais indivíduos depende do comportamento de ambos ou de todos, não se opõe a competição, requerindo um sistema intercruzado.
Os sistema interrelacional pode, porém, entrar em colapso. Isso é demonstrado quando um indivíduo que não é adequadamente controlado pela cultura adquire vantagem pessoal temporária por meio da exploração do sistema, gerando mentira, não retribuição de favores, quebra de compromissos, etc. Os sujeitos lesados após algum tempo deixam de ser responsivos a determinados estímulos que lhe são apresentados, gerando assim o colapso no sistema.

O grupo como uma unidade que se comporta

É sempre um único indivíduo que se comporta, ainda que possa se comportar junto a outros. Sendo assim, o entendimento do comportamento não exige qualquer método científico de origem diferente dos métodos de uma ciência natural.
É possível avaliar o que leva um jovem a se juntar a uma turma, bem como o que leva um homem a agredir alguém, bastando análisar as variáveis geradas pelos grupos que reforçam determinados tipos de comportamento, tais como a reunião e conformação.
As consequências reforçadoras produzidas pelo grupo excedem com facilidade as consequências que poderiam ser obtidas pelos membros que agissem separadamente. Comportar-se como outras pessoas se comportam tende a ter grande probabilidade de ser reforçado, do mesmo modo que olhar para uma vitrine em que todos estão olhando teria maior probabilidade de ser reforçador do que olhar para uma que não atraiu ninguém. Esse tipo de situação produz uma tendência a se comportar como os outros o fazem.

A Ciência segundo B. F. Skinner

O objetivo da ciência não é somente compreender, mas também exercer controle sobre seu objeto de estudo e os eventos estreitamente relacionados. Ela é mais do que a mera descrição dos acontecimentos à medida que ocorrem. É uma tentativa de mostrar que certos acontecimentos estão ordenadamente relacionados com outros.
Para aplicar os métodos da ciência aos assuntos humanos é preciso pressupor que o comportamento é ordenado e determinado. Esta é, de fato, uma possibilidade que desagrada a muitas pessoas por se opor a uma tradição de longo tempo, que encara o homem como um agente livre, cujo comportamento é fruto de de mudanças interiores espontâneas, ao invés da condições antecedentes específicas.
Diferente de outras formas de conhecimento, na ciência é mais comum que os cientistas rejeitem suas próprias autoridades quando interferem com a observação da natureza, de modo a aceitar os fatos mesmo quando eles se opõe a seus desejos.
O comportamento como uma matéria científica é difícil, não porque seja inacessível, mas porque é extremamente complexo. Desde que é um processo, e não uma coisa, não pode ser facilmente imobilizado para observação. Como algo mutável e fugaz, faz grandes exigências técnicas de engenhosidade e energia do cientista.
Na física o príncipio da indeterminação diz que há circunstâncias sob as quais o físico não pode obter toda informação relevante, ou seja, optando por observar um evento não poderá observar outro. Certos eventos também parecem ser imprevisíveis no campo do comportamento humano. Entretando, isso não prova que esses eventos sejam livres ou asbitrários. Quando não somos capazes de avaliar processos complexos, não se segue que o comportamento humano seja livre, mas somente que pode estar além do atual alcande de uma ciência do comportamento.
É comum que se argumente que a razão não pode compreender a si mesma, como se o comportametno requerido para se entender o próprio comportamento deva ser alguma coisa além do comportamento que é compreendido. Apesar do conhecimento estar delimitado pelas limitações do próprio organismo que conhece, mas as leis e sistemas da ciência visam diminuir a relevância do conhecimento de eventos particulares. Ou seja, o homem não precisa conhecer todos os fatos de um dado campo, mas sim compreender todas as espécies de fatos.Não há razão para supor que o intelecto humano seja capaz de compreender e formular os príncipios básicos do comportamento. Apesar de cada indivíduo ser único, seu comportamento deve estar sujeito a príncipios gerais que define a singularidade de outros indivíduos.
Sobre os termos "causa" e "efeito", Skinner diz que:

[...] já não são usados em larga escala na ciência. [...] Os termos que os substituem, contudo, referem-se ao mesmo núcleo fatual. Uma 'causa vem a ser uma 'mudança em uma variável independente' e um 'efeito', uma 'mudança em uma variável dependente'. A antiga 'relação de causa e efeito' transforma-se em uma 'relação funcional'. Os novos termos não sugerem como uma causa produz o seu efeito, meramente afirmam que eventos diferentes tendem a ocorrer ao mesmo tempo, em uma certa ordem. [...] (Skinner, 2007, p. 24)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Introdução sobre o questionamento do livre-arbítrio.

De maneira geral, as pessoas assumem-se como livres, como donas de seu próprio destino, entretanto, parece que esquecem que existem causas para seus comportamentos que levam-nas a se comportar como o fazem. De maneira geral, algumas podem dizer que existem fatores que atuam em seus comportamentos, mas que apesar disso seriam livres para escolher se esses fatores terão ou não eficácia sobre elas. Ou podem dizer que podem resistir heroicamente a tais influência externas e também as internas (orgânicas).
As pessoas porém acreditam que há diferenças discerníveis entre o comportamento de povos asiáticos e africanos, entre brasileiros e argentinos, entre dois cachorros da mesma raça, entre homens e mulheres, e assim por diante. Podemos assumir que eles se comportam de forma diferente porque assim o escolheram, ou podemos dizer que se comportam dessa forma porque seus ambientes físicos tanto atuais como passados (incluindo história de vida de cada indivíduo), seus próprios corpos (fatores généticos, etc.) lhes estímula a isso.
A cultura evoluiu até um certo ponto com a perspectiva de que nosso comportamento observável e nossos pensamentos (que aqui chamarei de "comportamentos encobertos") não possuem relação causal com os eventos ambientais. É evidente que essa influência não foi a única dominante, e atualmente a maioria das pessoas admitiria que crê haver influência do ambiente. O que ocorre é que a crença do grau de influência que o meio ambiente tem sobre nós pode variar de cultura para cultura ou mesmo de pessoa para pessoa em uma determinada cultura.
Porém, se refletirmos um pouco mais sobre a questão perceberemos haver contradições dentro da concepção do livre-arbitrio.
Grande parte da população admite que um criminoso é responsável por seus atos e livre para agir como o faz, mas também assumem que os crimes podem ser influenciados por nosssa história de vida (carência de educação familiar e escolar, violência sofrida na infância, etc.), ou mesmo por fatores emocionais e ambientais mais recentes, como é parte do que ocorre nos chamados crimes passionais. Em situações como essa temos problema para definir o livre arbitrio, pois assumimos que o sujeito foi determinado pelos fatores do ambiente, mas também é responsável pelo ato. Essa concepção de liberdade individual existe no direito pois é de extrema utilidade social. Sem tal conceito, o estado de direito sofre um abalo em sua estrutura, e as consequências dessa concepção em um primeiro momento, se mal expressadas poderiam ser bastante complexas, seja para aqueles que estão no topo dessa estrutura, como para a própria população, que até certo ponto se beneficia de sua atuação; afinal de contas, se admitimos que um assassino é determinado por diversos fatores, sejam eles genéticos ou culturais, surge uma dificil questão, o que fazer com ele? Responsabilizar o sujeito pelo comportamento que emite não soluciona o problema do livre-arbitrio, mas gera um curso de aão satisfatório para o grupo.
Manter-nos nessa ilusão, porém, não nos leva a respostas concretas a cerca das causas do comportamento humano.
Temos a impressão de que somos livres ou que nossos pensamentos determinam a priori o comportamento encoberto e observável que emitimos, pois é mais fácil encontrar relação entre um comportamento observável e um evento encoberto, como por exemplo, as emoções, porque ela ocorre pouco antes da emissão do comportamento observável. O fato é que mesmo as emoções são estados do organismo, como as respostas fisiológicas (ex.: sudorese, taquicardia, etc.), somado a respostas no sistema nervoso, que são condicionadas em uma interação com o meio ambiente. Logo, um indivíduo com transtorno do pânico que terá reações "emocionais" variadas, pode ter seu ataque desencadeado por inúmeras variáveis ambientais, devido a um aprendizado por condicionamento respondente e operante. Essas variáveis determinarão o desencadear do ataque, sua intensidade, etc. Porém, até certo ponto poderiamos controlar o ataque, ou poderemos buscar tratamento médico e psicológico para ele. Isso muitas vezes nos da a noção de livre-arbitrio, em que afirmamos coisas como "posso não controlar muito bem o ataque, mas posso escolher tratá-lo, por isso sou livre". Na verdade isso não acaba com o problema da determinação do comportamento, pois se buscamos tratamento para o ataque de pânico, o faremos porque diversos fatores ambientais, como p. ex. o próprio grupo social, pode ter nos insentivado a fazê-lo, direta (através de nossa experiência passada) ou indiretamente (observando outras pessoas fazendo tratamento, ou ouvindo falar que outros buscaram tratamento, etc).
Se acreditassemos que temos plenas escolhas sobre nosso destino sem qualquer influência ambiental, não colocariamos nossos filhos nas escolas, não investiriamos em saúde mental, não tentariamos controlar o comportamento das pessoas mediante o sistema prisional, etc. Para que investir em educação e ensino de ética e cidadânia se podemos escolher pelo "bem" ou "mal" (ou seria melhor dizer: pelo comportamento socialmente aceito ou não aceito) sem influência do meio onde vivo? Tal afirmação soa ridicula, mesmo para aqueles que creem na liberdade do comportamento humano.
Se tivessemos escolhas livres, porque escolher se comportar de forma tipicamente avaliada como maldosa? Ou porque escolher ser homossexual, já que o sujeito estaria exposto ao precocneito social? A resposta é mais simples, não temos controle sobre todas as variáveis que nos determinam, e quando finalmente somos capazes de controlar o ambiente, só o fazemos porque também estamos sendo determinados a fazê-lo. Confuso? Inicialmente sim; novos posts esclarecerão melhor a questão elucidando melhor como a interação organismo-ambiente é capaz de prover comportamentos complexos, como o próprio "autocontrole", a "criatividade", a "violência", entre outros.

Esse post é um questionamento feito sem qualquer refinamento, a fim de tratar dos problemas relativos ao comportamento humano sob uma perspectiva científica, mais precisamente, na perspectiva do Behaviorismo Radical. Em posts posteriores discutirei questões como o condicionamento respondente e operante e filosofias comportamentalistas, a afim de elucidar a questão da determinação do comportamento humano.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Caso 1 - Decisão sobre aborto

SIMULAÇÃO DE ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO

Janaina chegou ao consultório para tomar a decisão de realizar ou não um aborto. O psicólogo que realiza o aconselhamento é do sexo masculino e seu referencial é a teoria psicodinâmica. Ele reconhece que há geralmente uma questão ética envolvida na decisão de um aborto, mas a paciente, porém, não aparentou relevar tal questão. Tornou-se necessário, portanto, que o profissional introduzisse o assunto, não por fazerem parte de seus valores pessoais, mas para realmente constatar se a paciente não estava isolando o afeto em relação a tal decisão, o que poderia levá-la a sentir-se culpada posteriormente.
A paciente parecia muito despreocupada para quem esta quase tomando a decisão sobre um aborto. O psicólogo percebe é que Janaina já chega com uma decisão praticamente tomada e insiste e sutilmente induz o profissional a dar sua aprovação pessoal, de modo a permitir tal decisão. Ao longo da sessão fica claro que Janaina é uma pessoa emocionalmente instável e que teme intensamente a rejeição.
Depois de alguns minutos de conversa sobre a paciente e sua tomada de decisão a respeito do aborto, chegou-se ao momento da consulta em que o terapeuta consegue “romper com as defesas” da paciente (ver abaixo). Percebendo que a paciente se encontra em dúvida, o terapeuta utiliza-se de uma estratégia predominantemente interpretativa, para que ela repense a decisão do aborto. Como a paciente respondeu bem ao uso dessa abordagem, o terapeuta não necessitou utilizar de “persuasão” de forma diretiva.

JANAINA: Na verdade o aborto ficou marcado pra depois de amanhã...
JANAINA: Mal posso esperar para adiar a gravidez por um tempo... Daqui há umas semanas começo cursinho. Vou tentar facul de Administração.
TERAPEUTA: É interessante que você tenha usado a expressão “adiar”. Você disse “adiar por um tempo”...
JANAINA: Humm... (segue-se um período de silêncio; a paciente fica com uma expressão séria)
JANAINA: Você acha que isso significa alguma coisa?
JANAINA: (A paciente segue em silêncio).
TERAPEUTA: Janaina, adiar significa “deixar para depois”. Sim, você poderia adiar uma gravidez se partissemos do pressuposto de que você estivesse planejando engravidar. Mas você acha que abortar uma gravidez significa “adiar por um tempo”?
JANAINA: Você acha que significa mais alguma coisa?
TERAPEUTA: Na verdade é uma decisão importante que você esta refletindo. O que você acha que isso significa?
JANAINA: Não sei... Na verdade, acho que não.
JANAINA: Eu não sei, você esta me deixando confusa.
JANAINA: Se eu não fizer isso vou atrasar minha vida, vou perder o Cesar, meu namorado, eu não sei se ele aceitaria.
TERAPEUTA: Humm, são questões importantes a serem avaliadas. Então, uma das razões pela qual você reflete a possibilidade de um aborto é seu namorado...
TERAPEUTA: Me fale um pouco sobre ele, seu namorado. Vocês já conversaram sobre isso?
JANAINA: Hummm... não...
JANAINA: Mas estou com medo...
TERAPEUTA: De falar com ele a respeito?
JANAINA: Eu não sei se ele aceitaria... Ele tem tantos planos. E um filho agora, eu fico com medo de que ele possa se irritar e achar que eu planejei isso sabe...
JANAINA: Meu pai, que na verdade era meu padrasto, já que eu não conheci meu pai biológico, teve essa reação com minha mãe quando ela engravidou pela segunda vez...
TERAPEUTA: E ela realizou o aborto?
JANAINA: Sim.
TERAPEUTA: Como exatamente você acha que seu namorado poderia reagir?
JANAINA: Eu realmente não sei.
TERAPEUTA: Seu namorado já se mostrou intolerante com você em alguma ocasião?
JANAINA: Na verdade, ele é bastante tolerante... Ele nunca me levantou a voz...
TERAPEUTA: Você disse que ele tem muitos planos para o futuro. E pelo que me disse ainda não haviam discutido sobre gravidez. Apesar disso você estão juntos a bastante tempo, como um casal... E você sempre fala sobre a opinião dele... mas pelo que você me disse, não sabemos exatamente qual é essa opinião...
TERAPEUTA: Você acha que ele gostaria de participar dessa decisão?
JANAINA: Eu não sei. Ele sempre me ouviu muito...
JANAINA: É, acho que to errando em fazer isso sem ele saber... o filho também é dele... Eu antes sempre pensava que era errado abortar... Quando a mãe me falava que fez isso por causa do meu pai, me dava enjoo sabe...
JANAINA: Me sinto aliviada de ter conversado disso com você... Mas o que você acha que eu deva fazer agora?
TERAPEUTA: O único meio de saber a reação de seu namorado e o que ele pensa sobre essa decisão, seria contando a ele sobre a gravidez. O que você pensa sobre o que estou dizendo?
JANAINA: Não sei, tenho medo sabe. Talvez se eu te... (paciente interrompe sua sua fala)
TERAPEUTA: Você se refere a fazer uma tentativa de contar a ele?
JANAINA: Talvez eu devesse.
JANAINA: Por que você acha que eu to excluindo ele?
JANAINA: Eu devo ter sido mesmo uma pessoa horrível.
TERAPEUTA: Não acho que você seja uma pessoa horrível.
JANAINA: Mas porque eu fui por esse rumo?
TERAPEUTA: Conversamos muito pouco para que possamos ter absoluta certeza. Mas pelo que você me disse, o aborto de sua mãe a abalou bastante.
JANAINA: Uhum...
TERAPEUTA: Essa situação pode, ao menos em parte, explicar alguns de seus sentimentos sobre a gravidez e sobre seu namorado.
TERAPEUTA: Você percebe uma relação entre esses dois eventos: entre o aborto de sua mãe e a sua intenção de realizar um aborto?
JANAINA: Na verdade eu nunca tinha visto por esse lado... mas faz sentido sim. Eu andei sonhando muito com isso, com o aborto da mãe e lembrando muito daquilo.
TERAPEUTA: Talvez no fundo, haja uma impressão de que o Cesar, seu namorado, poderia reagir como seu pai reagiu com sua mãe. Nesse caso, fazer um aborto seria uma forma de realizar a suposta vontade dele sem que ele se quer demonstrasse raiva com você... É como se você estivesse antecipando o que inicialmente pensou que seria a reação dele.
TERAPEUTA: Isso faz algum sentido pra você?
JANAINA: Isso me assusta um pouco. Lembro muito do meu pai fazendo isso com a mãe... (paciente faz leve expressão de choro).
JANAINA: Acho que errei em não contar pra ele, to me sentindo péssima.
JANAINA: Mas você também é homem. Seja sincero. Você acha que ele (Cesar) também vai me forçar?
TERAPEUTA: As pessoas são diferentes Janaina. Seu namorado pode não ter necessariamente a mesma opinião que seu pai. Como eu disse, só há um meio de descobrir.
JANAINA: Sim, então eu vou contar pra ele.
TERAPEUTA: Então, sobre a cirurgia (aborto) que esta marcada... (nesse momento o terapeuta é interrompido por Janaina)
JANAINA: Já decidi, vou cancelar! (fala em tom elevado)
TERAPEUTA: Você se sente capaz de conversar a respeito disso com seu namorado?
JANAINA: Acho que posso tentar.
TERAPEUTA: Uhum. Façamos assim. Como você disse, desmarque o procedimento e tente conversar com ele e marcaremos uma consulta para conversarmos sobre o que aconteceu. Esta bem assim pra você?
JANAINA: Sim. Me deseje sorte...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Psicoterapia Psicodinâmica tem ou não tem eficácia?


Estava lendo um artigo denomidado A Eficácia da Psicoterapia Psicodinâmica publicado recentemente por Jonathan Shelder, pesquisador e "amante" da teoria psicodinâmica. Abaixo, minha reflexão.

De acordo com o autor há a crença disseminada entre os profissionais, acadêmicos, e em muitos leigos, de que os conceitos e tratamento psicodinâmicos carecem de apoio empirico ou que inumeras evidências científicas demonstram que outras formas de tratamento são mais efetivas. No entanto, tais afirmativas não são verídicas.
Diversos estudos de meta-análise sobre as terapias psicodinâmicas demonstram sua eficácia no tratamento de diversos transtornos mentais. Segundo os estudos citados no artigo, a abordagem psicodinâmica demonstrou grande efetividade em praticamente todos os transtornos avaliados nesses estudos: transtornos somáticos, transtornos de personalidade (como o Transtorno de Personalidade Borderline, entre outros. Nem todos os estudos comparavam a efetividade do modelo psicodinâmico com o modelo cognitivo-comportamental, mas os estudos que faziam tal comparação demonstraram uma maior efetividade no primeiro modelo (lembrando que ambos se mostraram efetivos). Uma hipótese seria a de que a cognição não é o elemento mais determinante de mudança nas psicoterapias, mas sim os elementos afetivos, com os quais a abordagem psicodinâmica supostamente trabalha de forma mais enfática. É preciso, também, lembrar que tais estudos não conseguem afirmar exatamente quais técnicas estão sendo mais efetivas para tais mudanças e o próprio autor aborda o fato de que tais dados não necessariamente corroboram as teorias ou modelo de tratamento psicanalíticos. Do mesmo modo que estudos sobre a efetividade das terapias cognitivas não possam afirmar precisamente se seus beneficios se devem as mudanças cognitivas almejadas pelos terapeutas. Há a hipótese de que existiriam os "universais" das psicoterapias - as técnicas que provavelmente são utilizadas em todos os modelos psicoterápicos. Um exemplo seria a "escuta empática" (segundo o modelo cognitivo), chamada de "audiência não punitiva" na teoria comportamental do Skinner, que afirmava que não punir o paciente permite que ele execute comportamentos (principalmente verbais) que a sociedade condena (pune), evitando assim o comportamento de "esquiva" e possibilitando reduzir, ou mesmo extinguir completamente determinados comportamentos (respostas), algo que Freud provavelmente percebia há muito tempo, embora tenha fornecido suas próprias interpretações.
Uma última questão a se avaliar, é que tais estudos não focam na eficácia de técnicas específicas das psicoterapias psicodinâmicas e nem na psicoterapia aplicada em indivíduos diagnósticados com transtornos específicos, o que nos forneceria mais dados para termos uma ideia mais clara sobre o que pode haver de efetivo dentro das técnicas utilizadas e em quais transtornos se mostram mais efetivos (algo que sem os estudos só podemos hipotetizar). Bem, provavelmente há mais artigos que tratam do assunto, inclusive sobre a efetividade da TCC, mas isso fica pra outro momento.

Seguem-se algumas informações retiradas do artigo.

As características que distinguem a terapia psicodinâmica de outras formas de terapia são:

1. Foco no afeto e expressão das emoções
2. Exploração de tentativas de evidar pensamentos e sentimentos angustiantes
3. Identificação de temas e padrões recorrentes
4. Discussão de experiência passada
5. Foco nas relações interpessoais
6. Foco no relacionamento terapêutico
7. Exploração das fantasias

A primeira grande meta-análise de estudos sobre os resultados de psicoterapia incluiu 475 estudos e resultou em uma magnitude de efeito global (vários diagnósticos e tratamentos) de 0.85 para pacientes que receberam psicoterapia comparados com controles não tratados.
A influente revisão de Lipsey e Wilson tabulou resultados para 18 meta-análises relativas aos resultados de psicoterapia geral, que tinham uma média de magnitude de efeito de 0.75. Ele também tabulou resultados de 23 meta-análises relativas aos resultados da TCC e modificação comportamental, que teve uma magnitude de efeito médio de 0.62. Uma meta-análise de Robinson, Berman, e Neimeyer (1990) resumiu os achados de 37 estudos de psicoterapia preocupados especialmente com os resultados no tratamento da depressão, que tinham uma magnitude de efeito global de 0.73. Estes são efeitos relativamente grandes.
A Cochrane Library publicou um estudo metodologicamente rigoroso de psicoterapia psicodinâmica, que incluiu 23 ensaios clínicos randomizados de 1431 pacientes. O estudo comparou pacientes com uma série de desordens mentais comuns que receberam terapia psicodinâmica de curto-prazo (<> 9 meses após o tratamento). Além das mudanças nos sintomas gerais, a meta-análise relatou uma magnitude de efeito de 0.81 para mudança em sintomas somáticos, que aumentaram para 2.21 em um acompanhamento de longo-prazo; um magnitude de efeito de 1.08 para mudança em avaliações de ansiedade, que aumentaram para 1.35 no acompanhamento; e uma magnitude de efeito de 0.59 para mudança em sintomas depressivos, que aumentaram para 0.98 no acompanhamento. A consistente tendência para tamanhos de efeito maiores no follow-up sugere que a terapia psicodinâmica põe em movimento os processos psicológicos que levam à mudança em curso, mesmo depois do término do tratamento. Uma meta-análise relatada no American Journal of Psychiatry examinou a eficácia da terapia psicodinâmica (14 estudos) e da TCC (11 estudos) para transtornos de personalidade. A meta-análise relatou tamanho de efeito do pré-tratamento ao pós-tratamento usando o follow-up mais longo disponível. Para a terapia psicodinâmica (tempo médio de tratamento foi de 37 semanas), o período médio de acompanhamento foi de 1.5 anos e a magnitude de efeito do pré-tratamento ao pós-tratamento foi de 1.46. Para a TCC (tempo médio de tratamento foi 16 semanas), o período médio de acompanhamento foi de 13 semanas e o tamanho do efeito foi 1.0. Os autores concluíram que ambos os tratamentos demonstraram efetividade. Uma mais recente revisão da terapia psicodinâmica de curto-prazo (média de 30.7 sessões) para transtornos de personalidade incluiu dados de sete ensaios clínicos randomizados. O estudo avaliou o resultado do mais longo período de acompanhemento (uma média de 18.9 meses pós-tratamento) e relatou uma magnitude de efeito de 0.91 para melhora dos sintomas gerais (N = 7 estudos) e 0.97 para a melhora no funcionamento interpessoal (N = 4 estudos). Os achados relativos aos transtornos da personalidade são particularmente intrigantes. Um recente estudo de pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline não só demonstrou os beneficios do tratamento que igualou ou excedeu aqueles de outros tratamentos baseados em evidências, como terapia comportamental dialética (Linehan, 1993), mas também mostrou mudanças no mecanismos psicológicos subjacentes (processos intrapsíquicos) que se acredita medeiam a mudança dos sintomas nos pacientes borderlines (especificamente, mudanças na função reflexiva e organização da vinculação; Levy et al., 2006). Essas mudanças ocorrem nos pacientes que receberam psicoterapia psicodinâmica, mas não nos pacientes que receberam terapia comportamental dialética.


NOTA SOBRE A METODOLOGIA DE ESTUDO

A meta-análise é um método vastamente aceito de resumir e sintetizar os resultados de estudos independentes. A meta-análise torna os resultados de diferentes estudos comparáveis convertendo os resultados em uma métrica comum, permitindo que os resultados sejam agregados ou agrupados através de estudos. Uma métrica amplamente utilizada é a "magnitude de efeito", que é a diferença entre o grupo controle e o grupo de tratamento, expressada em unidades de desvio padrão. Uma magnitude de efeito de 1.0 significa que a média de pacientes tratados é um desvio padrão mais saudável que na distribuição normal ou "curva de bell" do que a média de pacientes não tratados. Em pesquisas médicas e psicológicas, uma magnitude de efeito de 0.8 é considerada um grande efeito, uma magnitude de efeito de 0.5 é considerada um efeito moderado, e uma magnitude de efeito de 0.2 é considerada um efeito pequeno.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Hipnose


A hipnose é uma prática muito antiga, pregressa a quais quer relatos escritos. Em diversas culturas humanas houve métodos de indução hipnótica. Povos de todo o mundo o utilizaram por meio de cânticos, mantras, sons rítmicos de tambores, em práticas de meditação, Yôga, artes marciais e para finalidades ritualísticas religiosas e de cura. A hipnose moderna começa em 1773, com Franz Mesmer, um médico que acreditava obter curas por meio de magnetismo animal. Mais tarde foi questionado por uma comissão de intelectuais da época, sendo denunciado por fraude. A partir daí começaram pesquisas de maior significância sobre o fenômeno que seria posteriormente utilizado por psiquiatras e psicanalistas, como Charcot, Breuer e Freud.
Imagine a si mesmo dirigindo um carro em uma estrada. Você fixa a atenção nas faixas, enquanto passam monótona e gradativamente, aos poucos ficando sonolento. O som do rádio toca ao fundo uma música suave e relaxante. Você sem se dar conta pode estar aos poucos entrando em um estado de maior receptividade a sugestões.
Provavelmente todos nós já passamos pelo processo de indução hipnótica, de forma mais ou menos aprofundada. Portanto, não constitui um acontecimento raro ou anormal. O operador (termo de Erickson para hipnotizador) pode fazer sugestões pós-hipnóticas, em que dá ao hipnotizado determinada mensagem ou ordem. Por exemplo, lhe diz que sempre que observar determinado objeto sentirá um sabor de algo doce na boca. Pode sugerir a ele ter menor estresse e sugerir-lhe também mecanismos para lidar com este.
Antes de discorrer mais a fundo sobre a hipnose, é importante fixar-se, em outro fenômeno que é fundamental dentro dela, a consciência. Esta permanece sendo um tema controverso, alvo de estudos de diversos pesquisadores. Para o filósofo da mente, John Searle o conceito é simples, sendo um fenômeno biológico natural, em suas palavras: “Consciência se refere àqueles estados de sensibilidade e ciência que começam normalmente quando acordamos de um sono sem sonho e continua até que durmamos novamente, caímos em coma, morremos ou ficamos inconscientes”. O próprio Searle complementa nos dizendo que: “A consciência (...) é um fenômeno interno de primeira pessoa”.
A consciência de seres humanos, tais como a de outras espécies de animais, tais como pássaros, mamíferos, entre outras, esta condicionada a estruturas neurônicas complexas (SHIMIDT et al, 1979, p. 329). Para o homem a consciência é, pois, indispensável para o adequado processo de adaptação deste ao seu meio ambiente. William James, nos primórdios dos estudos da Psicologia enquanto ciência independente, já nos falava, de seu potencial de garantir ao homem, tal como afirma Shimidt, fixar-se em diferentes estímulos e aprender coisas novas, consumando assim o já mencionado processo adaptativo.
Importante atributo da consciência e ferramenta da hipnose é a atenção. O hipnotizado deverá focá-la em um determinado aspecto de sua imensa gama de experiências internas ou estímulo ambiental externo. No caso da hipnose a voz do hipnotizador é um dos estímulos. Tomando o exemplo de Myers, em seu livro “Introdução à Psicologia”, tente imaginar-se dirigindo um carro pela primeira vez. Obviamente despenderemos grandes esforços a fim de coordenarmos e memorizarmos toda uma seqüência de movimentos. Pisar no acelerador com a pressão adequada, manusearmos o volante, e o câmbio e ainda mantermos a atenção no espelho retrovisor e velocímetro. Até que de esta atividade, de tanto realizada, termine por se automatizar exigir menos demanda de nossa consciência. Dirigir um carro torna-se então, uma tarefa simples. As de mais atividades de nosso cotidiano, com as quais não possuímos experiência prévia não ocorrem muito diferente, como podemos constatar por meio da experiência.
Segundo Myers e Davidoff, ao longo de nossa vida experienciamos, o que se chamam, diferentes estados de consciência. Como exemplo, temos o sono e dentro destes subfases (estágios), tais como o sono NREM (Non Rapid Eyes Moviment), os estágios 1, 2, 3, 4 e o sono REM. Se considerarmos a consciência como um conjunto de capacidades produzidas pelo cérebro humano, tais como atenção, pensamento, entre outras, poderíamos afirmar a hipnose como sendo um estado alterado.
É possível produzir, por meio de sugestão, alucinações no hipnotizado. Tal efeito sugere alterações em elementos que provavelmente caracterizam a consciência. A hipnose poderia ser também um estado de consciência dissociada, como acreditam muitos pesquisadores.
Funções cognitivas associadas com os lobos frontais do cérebro, podem estar especificamente envolvidos na hipnose. A área frontal tem, no entanto, sido de grande interesse quando se pesquisa por mudanças neurais associadas com a hipnose. Foi especificado em estudo experimental de caso com um indivíduo considerado altamente hipnotizável, um “virtuoso”. Este foi submetido à hipnose e, utilizando-se do eletroencefalograma (EEG), demonstrou-se que a hipnose induz reorganização na composição de oscilações cerebrais especificamente in no córtex pré-frontal e lobo e hemisférios direito do lobo occiptal.
A hipnose ficou caracterizada por uma significativa assimetria do hemisfério direito dominante. Os padrões EEG gerais observados durante a hipnose não retornaram aos níveis EEG base registrados.
Os resultados da EEG, refletida na ativação neural e cognitiva também demonstram que, de fato, há um acréscimo no alerta e atenção na hipnose. Cabe, porém, lembrar que este é um estudo de caso.
Muitos teóricos, no entanto, conceituam a hipnose como uma extensão de capacidades normais do ser humano. Este proveniente de uma extraordinária influência social sobre os indivíduos.
Indivíduos não hipnotizados são capazes de realizar muitas das ações que indivíduos hipnotizados demonstram-se capazes de fazer. Tal como, o exemplo da "fantástica ‘prancha humana", em que um homem enrijece seu corpo, ficando deitado ereto somente com os ombros e cabeça sobre uma cadeira e a extremidade inferior das pernas sobre outra. Da mesma forma muitos afirmam que, por meio da hipnose, é possível fazer com que um indivíduo realize ações perigosas, para si e para os demais. Porém, estudos envolvendo influência social revelam que pessoas não hipnotizadas também podem.
Experimentos e teorias provenientes das pesquisas em Psicologia Social, como a teoria da Inércia Social de Bibb Latané, o estudo da conformidade e aprovação social de Asch e o experimento a respeito de figuras de autoridade de Milgram, revelam a influência da sociedade e do hipnotizador em nossas ações e julgamentos. No exemplo de Milgram, os indivíduos despojam-se de sua responsabilidade ao receberem ordens de “superiores”, julgando que a responsabilidade por seus atos, deixa de ser suas.
Como nos mostram tais estudos, representamos ou introjetamos em nosso dia-a-dia diversos papéis sociais, sejam eles familiaresm profissionais, entre outros. Papéis que nos afirmarão uma identidade e permitirão nossa adaptação ao meio social, trazendo-nos satisfação.
Diariamente forjamos também, expectativas quanto aos eventos, o que influirá em nossas reações ao nos depararmos com eventos semelhantes. Um voluntário à hipnose pode, pois, gerar uma expectativa quanto à experiência e voluntarizar-se a se comportar da forma que acha que um hipnotizado deva se comportar, ou seja, incorporar o papel que lhe foi dado. Prontificando-se a participar de uma sessão de hipnose com uma platéia observando, o indivíduo pode, portanto, ver-se pressionado a desempenhar tal papel com sucesso. É possível que tal expectativa produza igualmente uma forte inclinação às ordens do hipnotizador. Somado aos fatores sociais, hipnotizadores utilizam-se também de fatores fisiológicos. Qualquer um, se colocado em um ambiente calmo e confortável, tenderá a sentir-se mais relaxado e sonolento. Se mantivermos os olhos abertos olhando para cima os sentiremos cansarem. Da mesma forma é fato conhecido, hipnotizadores usarem técnicas de indução ao transe. Pede-se, por exemplo, para que os voluntários ao processo cruzem os dedos das mãos com força em determinadas posições e sugerir-lhes que estas se tornem mais difíceis de serem separadas por vontade consciente. Realmente, as mãos “atadas” em certas posições podem se tornar difíceis de separar, porém não impossível. Tais fatos, somados a sugestão do hipnotizador podem produzir fortes resultados, tornando os candidatos à hipnose mais receptivos as sugestões.

Referências

ALEXANDER A. FINGELKURTS et. al., Hypnosis Induces A Changed Composition of Brain Oscillations in EEG: A Case Study.

ARONSON, Elliot, Psicologia Social, 3ª ed., Ed. LTC, 2002, RJ.

DAVIDOFF, Linda, Introdução a Psicologia, 3ª ed., 2004, SP.

ERICKSON, Milton, Hipnose médica e odontológica, ed. Editorial Psy, 1994, SP.

MYERS, David, Psicologia, Ed. LTC, 2006, RJ.

SCHIMIDT, R. F., Neurofisiologia, editora E.P.U, 1979, SP.

SEARLE, John R., O mistério da consciência, editora Paz e Terra, 1998, SP.

KANTOWITZ, Barry H., Psicologia Experimental, Ed. 8ª, ed. Thompson, 2006, SP.
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