quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Introdução sobre o questionamento do livre-arbítrio.

De maneira geral, as pessoas assumem-se como livres, como donas de seu próprio destino, entretanto, parece que esquecem que existem causas para seus comportamentos que levam-nas a se comportar como o fazem. De maneira geral, algumas podem dizer que existem fatores que atuam em seus comportamentos, mas que apesar disso seriam livres para escolher se esses fatores terão ou não eficácia sobre elas. Ou podem dizer que podem resistir heroicamente a tais influência externas e também as internas (orgânicas).
As pessoas porém acreditam que há diferenças discerníveis entre o comportamento de povos asiáticos e africanos, entre brasileiros e argentinos, entre dois cachorros da mesma raça, entre homens e mulheres, e assim por diante. Podemos assumir que eles se comportam de forma diferente porque assim o escolheram, ou podemos dizer que se comportam dessa forma porque seus ambientes físicos tanto atuais como passados (incluindo história de vida de cada indivíduo), seus próprios corpos (fatores généticos, etc.) lhes estímula a isso.
A cultura evoluiu até um certo ponto com a perspectiva de que nosso comportamento observável e nossos pensamentos (que aqui chamarei de "comportamentos encobertos") não possuem relação causal com os eventos ambientais. É evidente que essa influência não foi a única dominante, e atualmente a maioria das pessoas admitiria que crê haver influência do ambiente. O que ocorre é que a crença do grau de influência que o meio ambiente tem sobre nós pode variar de cultura para cultura ou mesmo de pessoa para pessoa em uma determinada cultura.
Porém, se refletirmos um pouco mais sobre a questão perceberemos haver contradições dentro da concepção do livre-arbitrio.
Grande parte da população admite que um criminoso é responsável por seus atos e livre para agir como o faz, mas também assumem que os crimes podem ser influenciados por nosssa história de vida (carência de educação familiar e escolar, violência sofrida na infância, etc.), ou mesmo por fatores emocionais e ambientais mais recentes, como é parte do que ocorre nos chamados crimes passionais. Em situações como essa temos problema para definir o livre arbitrio, pois assumimos que o sujeito foi determinado pelos fatores do ambiente, mas também é responsável pelo ato. Essa concepção de liberdade individual existe no direito pois é de extrema utilidade social. Sem tal conceito, o estado de direito sofre um abalo em sua estrutura, e as consequências dessa concepção em um primeiro momento, se mal expressadas poderiam ser bastante complexas, seja para aqueles que estão no topo dessa estrutura, como para a própria população, que até certo ponto se beneficia de sua atuação; afinal de contas, se admitimos que um assassino é determinado por diversos fatores, sejam eles genéticos ou culturais, surge uma dificil questão, o que fazer com ele? Responsabilizar o sujeito pelo comportamento que emite não soluciona o problema do livre-arbitrio, mas gera um curso de aão satisfatório para o grupo.
Manter-nos nessa ilusão, porém, não nos leva a respostas concretas a cerca das causas do comportamento humano.
Temos a impressão de que somos livres ou que nossos pensamentos determinam a priori o comportamento encoberto e observável que emitimos, pois é mais fácil encontrar relação entre um comportamento observável e um evento encoberto, como por exemplo, as emoções, porque ela ocorre pouco antes da emissão do comportamento observável. O fato é que mesmo as emoções são estados do organismo, como as respostas fisiológicas (ex.: sudorese, taquicardia, etc.), somado a respostas no sistema nervoso, que são condicionadas em uma interação com o meio ambiente. Logo, um indivíduo com transtorno do pânico que terá reações "emocionais" variadas, pode ter seu ataque desencadeado por inúmeras variáveis ambientais, devido a um aprendizado por condicionamento respondente e operante. Essas variáveis determinarão o desencadear do ataque, sua intensidade, etc. Porém, até certo ponto poderiamos controlar o ataque, ou poderemos buscar tratamento médico e psicológico para ele. Isso muitas vezes nos da a noção de livre-arbitrio, em que afirmamos coisas como "posso não controlar muito bem o ataque, mas posso escolher tratá-lo, por isso sou livre". Na verdade isso não acaba com o problema da determinação do comportamento, pois se buscamos tratamento para o ataque de pânico, o faremos porque diversos fatores ambientais, como p. ex. o próprio grupo social, pode ter nos insentivado a fazê-lo, direta (através de nossa experiência passada) ou indiretamente (observando outras pessoas fazendo tratamento, ou ouvindo falar que outros buscaram tratamento, etc).
Se acreditassemos que temos plenas escolhas sobre nosso destino sem qualquer influência ambiental, não colocariamos nossos filhos nas escolas, não investiriamos em saúde mental, não tentariamos controlar o comportamento das pessoas mediante o sistema prisional, etc. Para que investir em educação e ensino de ética e cidadânia se podemos escolher pelo "bem" ou "mal" (ou seria melhor dizer: pelo comportamento socialmente aceito ou não aceito) sem influência do meio onde vivo? Tal afirmação soa ridicula, mesmo para aqueles que creem na liberdade do comportamento humano.
Se tivessemos escolhas livres, porque escolher se comportar de forma tipicamente avaliada como maldosa? Ou porque escolher ser homossexual, já que o sujeito estaria exposto ao precocneito social? A resposta é mais simples, não temos controle sobre todas as variáveis que nos determinam, e quando finalmente somos capazes de controlar o ambiente, só o fazemos porque também estamos sendo determinados a fazê-lo. Confuso? Inicialmente sim; novos posts esclarecerão melhor a questão elucidando melhor como a interação organismo-ambiente é capaz de prover comportamentos complexos, como o próprio "autocontrole", a "criatividade", a "violência", entre outros.

Esse post é um questionamento feito sem qualquer refinamento, a fim de tratar dos problemas relativos ao comportamento humano sob uma perspectiva científica, mais precisamente, na perspectiva do Behaviorismo Radical. Em posts posteriores discutirei questões como o condicionamento respondente e operante e filosofias comportamentalistas, a afim de elucidar a questão da determinação do comportamento humano.

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