É comum que psicólogos cognitivos digam que desenvolvemos conceitos em nossa mente; a psicanálise clássica afirmou que o adolescente se individualiza devido a mudanças no aparelho psíquico decorrentes de passagens de uma fase a outra (p. ex., da fase fálica a fase genital). Afirma-se isso como se a mente criasse novas ideias espontaneamente e o sujeito passasse a se comportar de forma diferente a partir dessas mudanças espontâneas.
O papel do ambiente é geralmente relevado, porém não lhe é atribuido o devido crédito.
Evidentemente, o processo maturacional desempenha certo papel nas mudanças comportamentais do adolescente, porém se avaliarmos as contingências ambientais as quais o jovem esta exposto, torna-se mais fácil compreender as inúmeras mudanças decorrentes da fase.
Em primeiro lugar, esta é uma fase altamente diferenciada não só por fatores maturacionais, mas por fatores sociais relacionados a ela. Esses fatores consistem na maneira como os indivíduos de uma dada sociedade e de um dado grupo respondem (comportam-se) em relação ao adolescente e suas mudanças.
É fato notório que em diversos grupos humanos (algumas tribos indigenas) a adolescência tal como a conhecemos inexiste.
As pessoas mudam seu comportamento de acordo com as propriedades de estímulos daquilo que constitui um "adolescente". De repente aquela que até então era uma menininha passa a ser tratada diferente por diversos homens, pois agora tem seios; do mesmo modo, algumas pessoas do convívio da menina ainda a tratarão como uma criança, devido a suas características físicas e comportamentais ambíguas. Os adultos também poderão ser permissivos com o adolescente devido a fase em que se encontra ou exigir-lhe certos comportamentos (p. ex.: "você já é quase um adulto").
Refletindo sobre essas questões, cheguei a conclusão de que a Terra do Nunca, lar do famoso personagem Peter Pan, é um mundo em que o ambiente é radicalmente diferente daquele em que vivemos. Nele, as normas e comportamentos são estabelecidas por outras contingências.
Imagine um mundo em que desde cedo as crianças não tivessem a supervisão de um adulto, ou que não precisassemos ter frequentado a escola, etc. Será que seria um mundo ao estilo "Terra do Nunca". Isso dependeria obviamente de inúmeros fatores ambientais, como acesso a alimento, abrigo, idade e estrutura física de cada criança a formar a nova "sociedade". Mas gosto de pensar que as crianças ficariam mais parecidas com isso:
Hehehehe ...
Essas são as crianças do filme "O senhor das moscas", que conta a estória de um grupo de crianças que fica presa em uma ilha deserta após uma cidente de avisão, e o melhor de tudo, sem a supervisão dos adultos. Bem, ao menos isso é o que qualquer criança poderia pensar inicialmente. Para sobreviver elas precisaram de regras e, para isso, partiram daquilo que conheciam em sociedade (votação, exército, politica, religião, etc.). O resultado é claro (até por ser um filme) é o mais sombrio possível: todas os horrores vividos na sociedade dos adultos se repete com o grupo de crianças, gerando-se comportamentos de corrupção, religião, jogos de poder, e por ai vai...
O que as crianças seriam, dependeria de inúmeras variáveis as quais estivessem submetidas e a história prévia de condicionamento de cada uma. Mas essa reflexão serve simplesmente para mostrar que o ambiente desempenha um papel fundamental naquilo que fazemos.
As crianças em nossa sociedade se comportam como o fazem porque foram determinadas a isso. Até certa idade as crianças costumam brincar muito no chão. Uma possibilidade é que elas deixam esses comportamentos de lado na medida em que diversos reforçadores sociais e disposição fisica dos objetos (tais como móveis) são adaptados para a altura do adulto. ´Conforme a criança fica maior com a idade, ela continuar brincando se arrastando no chão será mais dificil, pois o ambiente fisico não esta mais adaptado a sua altura. Desconforto fisico já seria um bom exemplo de estímulo punitivo que reduziria a probabilidade de ocorrência de certos comportamentos (punição) e a retirada desses estímulos aumentaria a probabilidade de ocorrência de outros comportamentos em seu lugar (reforço negativo).
Em resumo, as crianças tornam-se adultas não só por fatores maturacionais, mas porque seu corpo não é mais reforçado ou punido pelas propriedades de diversos estímulos e por que os adultos são os principais responsáveis pela disposição das contingências que as afetam. Os adultos as definem não só porque detém o monopólio de diversos reforçadores infantis, mas também porque o monopólio da punição; e todos sabemos que as crianças não encontram defesa contra alguém absolutamente mais forte.
Refleti também as razões pelas quais é mais fácil exercer controle sobre as pessoas em um discurso quando o orador se encontra em posição elevada a seu público (ex: o politico falando no palanque). É possível que isso em parte ocorra porque em nossa história pregressa, os adultos exerciam grande poder sobre nós, e eles é claro, são mais altos.
Para quem quer uma fonte de inspiração para estudar a teoria comportamental, assistam aos filmes...
Um comentário:
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